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MOVIMENTO INFÂNCIA PLENA

Pela proteção integral de crianças e adolescentes

Foto do escritorInfância Plena

Sociedade disfórica


Uma breve análise dos critérios DSM-5 para diagnosticar a disforia de gênero em crianças


Esse texto vem para começarmos a destrinchar os equívocos em torno do diagnóstico de "disforia de gênero", repleto de preconceitos, desinformação, negacionismo e confusão proposital. Foi utilizado o documento que está no site da Sociedade Brasileira de Pediatria para análise.


O termo "disforia de gênero" é utilizado para realizar o diagnóstico e "atestar" que uma criança é "trans".


Quando dizemos que roupas e brinquedos não têm gênero, as pessoas favoráveis a rotular crianças como "cis" e "trans" afirmam que não se trata disso, que é mais "profundo".

Vamos ver o que diz o "diagnóstico"?



Critérios Diagnósticos:

"A. Incongruência acentuada entre o gênero experimentado / expresso e o gênero designado de uma pessoa, com duração de pelo menos seis meses, manifestada por no mínimo 6 dos seguintes 8 critérios (um deles deve ser o critério A1):"


Aqui já podemos fazer diversas perguntas:

O que seria "estar incongruente"?

Quem afirma isso e com base em quais parâmetros de congruência?

O que seria uma incongruência entre gênero "experimentado" e "designado" de uma pessoa? Quem "designa" o gênero?

É o gênero ou sexo que está sendo questionado como incongruente?


A própria ideia de que deveria haver alguma relação entre gênero "sentido" e "designado" é um equívoco em si.

As relações "de gênero" expressam variações que qualquer ser humano tem, em termos de preferências, estilos comportamentais, sentimentos, mas que não implicam afirmar que se está no corpo errado.


Dizer que uma criança está incongruente com seu gênero só quer dizer que ela apresenta comportamentos não esperados socialmente para seu SEXO.


Notem como em todo o diagnóstico o termo "SEXO" será evitado.

Isso não é à toa. A ideia de substituir "sexo" por "gênero" dá a impressão de que se está falando somente do gênero, mas não se engane: as intervenções feitas referem-se necessariamente, ao sexo.

Bloqueio da puberdade é para evitar que características de um SEXO apareçam.

Hormonização cruzada é para simular características de outro SEXO.

Até a mudança de nome e pronome é para ocultar o sexo, afinal de contas, em nossa língua, as palavras tem artigos femininos e masculinos para designar o sexo das pessoas.



Continuando… o item 1 diz que:

"A. 1. Forte desejo de pertencer ao outro gênero ou insistência de que um gênero é o outro (ou algum gênero alternativo diferente do designado)"


O gênero se refere a aspectos CULTURAIS. Dizer que há desejo de "pertencer" a outro gênero significa apenas ter preferências por aspectos fora de um padrão esperado socialmente. Não significa que a criança está no corpo errado e nem tem uma disforia por isso.

A "disforia" é da SOCIEDADE



"A. 2. Em meninos (gênero designado), uma forte preferência por cross-dressing (travestismo) ou simulação de trajes femininos; em meninas (gênero designado), uma forte preferência por vestir somente roupas masculinas típicas e uma forte resistência a vestir roupas femininas típicas."


Roupas para determinados sexos são apenas convenções sociais.

A roupa define o sexo da criança?

A roupa determina o "gênero" da criança?

Se um menino estiver usando uma roupa socialmente atribuída para uma menina, ele NÃO deixa de ser menino por isso. Em algumas sociedades homens usam saias, isso significa travestismo?


Percebem o quão relativa é essa análise, pois depende necessariamente de convenções acerca de nossas vestimentas. Nomear como cross-dressing um menino que usa roupas femininas é afirmar que há roupas para meninos. Isso não lembra nada a você, leitor?



"A. 3. Forte preferência por papéis transgêneros em brincadeiras de faz de conta ou de fantasias"


Crianças BRINCAM de exercer papéis sociais o tempo todo.

Não há qualquer definição do que seria um "papel transgênero", pois sabemos que isso significa apenas destoar socialmente de algumas convenções.

Novamente, é evidente que estão presos à ideia extremamente equivocada de que roupas, brinquedos e fantasias são capazes de dizer o que uma criança é.



Vamos continuar:

"A. 4. Forte preferência por brinquedos, jogos ou atividades tipicamente usados ou preferidos por outro gênero"


Preferir um brinquedo, um jogo ou uma atividade não diz nada sobre o sexo de alguém.

Não existe atividade ou brinquedo para um ou outro sexo (que eles propositadamente chamam aqui de gênero). São apenas convenções sociais, como já explicamos acima.



"A. 5. Forte preferência por brincar com pares do outro gênero"

Brincar com alguém de outro sexo (não de outro gênero) não significa absolutamente NADA, é conjuntural, depende de tantos fatores que nem cabe listar.

E não há qualquer elemento significativo nisso para ser um critério de afirmação de que uma criança está no corpo errado.

Ou vamos assumir que meninos só podem brincar com meninos e meninas só com meninas, caso contrário, seriam trans?



"A. 6. Em meninos (gênero designado), forte rejeição de brinquedos, jogos ou atividades tipicamente masculinas e forte evitação de brincadeiras agressivas e competitivas; em meninas (gênero designado), forte rejeição de brinquedos, jogos e atividades tipicamente femininas".


Ora, ora… estão afirmando que NECESSARIAMENTE meninos deveriam ser agressivos e competitivos e meninas deveriam ser "femininas"? Que reacionário, não?



"A. 7. Forte desgosto com a própria anatomia sexual"


Aqui entramos em um aspecto que precisa de atenção mas que não serve como justificativa para dizer que a criança está no corpo errado. É preciso investigar:

  • de onde vem esse desconforto;

  • quando começou;

  • que situações essa criança está passando ou passou;

  • o efeito de dizerem que ela está no corpo errado, que ela é muito feminina ou masculina, por conta de seus gostos fora do "padrão";

  • o efeito de uma educação repressora de expressões infantis;

  • o efeito de uma total ausência de informações, que confunde, retira qualquer parâmetro da realidade para que a criança se compreenda em seu corpo integralmente;

  • a possibilidade de haver algum tipo de abuso sexual (esse item espero escrever mais em outro momento, pois merece um tópico só para ele)



"A. 8. Desejo intenso por características sexuais primárias e/ou secundárias compatíveis com o gênero experimentado."


Aqui vale as questões colocadas no item 7 e uma questão referente à estimulação sexual precoce dessa criança, abuso sexual, e outros a serem longamente investigados e não "solucionados" com uma afirmação simplista de que é uma criança no corpo errado.


Além disso, destaco novamente a palavra "compatível", ou seja, a ideia subjacente de que haveria alguma compatibilidade entre características sexuais e gênero (papéis sociais)


Observem como esses dois últimos critérios (7 e 8) referem-se a aspectos distintos dos primeiros (de 1 a 6). Estes se referem a expectativas sociais sobre crianças, e aqueles sobre questões de rejeição e desejo em relação aos corpos.


É plausível de afirmarmos que esses desconfortos corporais se originam devido a má condução em relação aos 6 primeiros itens, ou seja: se constantemente se afirma que uma criança está no corpo errado porque gosta de brincar com certos brinquedos, roupas, porque tem certos tipos e preferência e comportamentos, logo ela poderá desenvolver rejeição por seu próprio corpo e desejo de "adquirir" características que não são próprias de seu corpo.



"B. A condição está associada a sofrimento clinicamente significativo ou a prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo."


Esse é o critério B do DSM-5 que atrela a prevalência de sofrimento em relação a todos os itens anteriores. Ou seja, se não há sofrimento, não deveria haver qualquer tipo de intervenção.


Acontece que vemos que o sofrimento vem muitas vezes de fora. São as pessoas ao redor que se queixam, que observam e avaliam, que recriminam, que colocam seu olhar de adulto sobre essas expressões. Voltamos à questão: a "disforia" é da criança ou da sociedade?


Ainda, mesmo que haja sofrimento é preciso compreender que a solução nunca é atender a esse sofrimento com uma "solução" mentirosa, que encobre os fatores que levam a tal situação e que implica em intervenções experimentais, sem evidências de que atendem as causas que levam à disforia.


Atender a uma suposta demanda de uma criança, sem investigação profunda e sem lidar com as questões sociais que atravessam os casos de "disforia", como o contágio social, a imposição de padrões rígidos sobre como crianças deveriam se comportar, a lógica cada vez mais perversa de consumo, padronização e fetichização de corpos é um equívoco, um risco, é irresponsável e antiético.


Não nos esqueçamos que esses diagnósticos são também políticos e que tais documentos atendem historicamente a interesses de grupos específicos. E não são o grupo das crianças.



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